2 anos de lama e luta
Saimos de Valadares, no dia 3 de novembro, atrasados e com apostas na mochila. Várias mochilas penduradas. Amor watu pulsante! Fé no coração. Manhã mágica de uma noite musicada. Viagem de umbanda maravilhosa. Alguma energia ia se potencializando na Van. Chegamos em um lugar lindo. EFA – Escola Família Agrícola. Planta espontânea por todos os lados. Gente transparente e carinhosa. A garotada que estuda lá se autoorganiza para os serviços diários de limpeza e manutenção. Leleco nos procura e conta que faremos parte da Mística de abertura. Uma volta no gramado para se inspirar. Sopros Caboclos. A benção de Deus Watu. Caminho sonoro até a rua. Jarro d’água e bandeiras no centro. Acordamos os espíritos com um punhado de água em cada mão. Que cada um contasse sua semente. Gestos d’água. Gratidão. A bacia dançou seus ritos. Semente, caule, poda, voa, jogo rede, cata no mangue, vira fera e dança para a lua.
Entramos no grande salão. Apresentações
O dia seguinte começou às 5h da manhã
Alguma coisa movia a cabeça e pedia concentração. Um café preto, tintas na mochila e stencil na mão. Um teto na frente do galpão e dê-lhe imagem. Certeza de reza e fé. Começa mais um dia no galpão. Nesse encontro, ficamos conhecidos como wiki.
Fizemos um ótimo e espontâneo CORPO VIVO. Uma roda que começou fazendo uma lunar no pai e foi indo, indo, indo. No final, um prisma espiral amarelo cobria nossos corpos e nos colocava em sintonia divina.
A programação começou com o pique de Leleco. Depois os depoimentos dos atingidos. Pela sala pairavam tijolos mentais de lama tóxica. Atingido chorando com atingido. “é, nossas lágrimas não enxerão o Rio Doce”. Onde mora a verdade desse processo? Nosso grupo foi o último a se apresentar naquela manhã. Pai assistiu e registrou alguns fragmentos para mandar à Vó. Café, farinha, açúcar, almoço. Nos intervalos decoramos a sala. A verdade será revitalizada em símbolos.
O dia correu em paz. Eu e pai tivemos tempo para conversar. Mais um trecho de cura em direção ao amor livre. Com a Delmar também foi acessado um nível de cura que tem a cor violeta. Durante a tarde falamos sobre a wikiriodoce.org. Deixamos para o fórum a pergunta:
-Como queremos/podemos estar juntos?
A noite finaliza em mais uma excelente dança de gestos e reverências para o Rio Doce. O pessoal foi para um boteco beber o que não é água pura.
Fiquei por ali e recebi o presente da querência da galera da EFA em gravar camisetas. Ficamos horas nos divertindo e curtindo essa amizade. Inspiramos o verde do mato que havia atrás do dormitório.
Domingo 5 de novembro
2 anos de lama e luta
Por que estar aqui/agora?
O dia amanheceu chorando. O céu se faz cúmplice do Rio e chora. Cinza sem manhã. Escorre de lá de cima a água que não pode ser rio aqui embaixo. Chove na gente.
Corpo Vivo de garoa. Sintona pura. Estamos vivos, estamos juntos e somos muitos.
Café e conversa sobre Fórum e Wiki
Sentimos que queremos, mas não sabemos bem onde estamos indo. Passos básicos são sugeridos, mesmo sabendo desde o fundo de nossa alma que temos uma dificuldade bastante grande em levarmos a sério. Entramos em nossa van e vamos para Bento, Barra Longa e onde mais a casa esteja. Atingidos sem gana de expressão nos 2 anos de lama, gera dúvida.
A igreja havia nos reunido.
Cidade escombros. Dique S4 construído. Memória inundada e nada (feito)
O relator nos encontra e descreve de forma crítica tudo o que tem passado o lugar. As pessoas curtem a sensação de caminhar entre os escombros. No lugar onde ficava a antiga igreja entre escombros, com algumas estruturas novas improvisadas. Uns poucos atingidos com alguns outros poucos repórteres e ativistas. Não vimos oportunistas, choravam um dia cinza na paisagem.
Muitos dos “nossos” nem gastaram tanto tempo ali e correram para a van querendo ir pra casa
A viagem é chuvosa. Os olhos chovem também. Descemos na esquina do mercado e o dia acaba. Fim.
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