Troca de Saberes
Quinta-feira, pela manhã arrumamos nossas coisas, arranjamos um cantinho seguro para deixarmos as bicicletas e partimos para a estrada, com mochila nas costas, em direção a Governador Valadares.
Fritamos os miolos no sol do meio dia e acabamos decidindo pegar um ônibus. Gratidão Rio Doce Help! Nossa guerreira cabeça de vento estava sem identidade. Fomos até Aimorés pois dali sai um ônibus que não pede identidade. Chegamos já de noite na cidade de Governador Valadares. Encontramos com o companheiro Fal em frente ao CAT e seguimos para a residência deles.
Dormimos muito bem e amanhecemos em 29 de setembro. Dia de São Miguel e aniversário de nossa Guerreira. O dia foi uma delícia e pela tarde nos juntamos com Reinaldo para ir a 4ª Roda da Troca de Saberes. Já é a quarta vez que os curandeiros do Rio Doce se encontram para regenerar. Dessa vez o encontro foi em Fabriciano. Foi um momento de elevação espiritual e comunhão da paz. Chegamos ao local do evento já de noite. Os preparativos estavam acontecendo. Um cafézinho com biscoito em cima da mesa e o pessoal entusiasmado em organizar tudo para receber os convidados. Não demorou muito e chegou um carro recheado de alimentos preparados com muito amor. O clima era de espontaneidade. Todos ficaram satisfeitos com a nutrição e fomos nos organizando em roda para receber a terapia do Temascau. Um ser iluminado nos orientou durante a feitura do Temascau. Explicou do que se tratava, como iríamos proceder durante a terapia, saciou eventuais dúvidas e nos aproximamos da fogueira. Lá, comungamos a energia sagrada de nosso ancestral fogo. Assim que estivemos prontos, fomos entrando na tenda. As rezadeiras se colocaram no meio e foram conduzindo seus rezos já preparados anteriormente no pé de uma árvore. Fomos informados de que trabalharíamos em 4 rodadas de cura, cada um com 4 cantos. Prontos, as pedras quentes começaram a entrar na tenda. A cada nova rodada, mais pedras quentes eram colocadas entre nós e o curandeiro guia jogava água sobre as pedras. Isso fazia com que a tenda se enchesse de vapor d’água e esse vapor nos fazia suar, liberando toda as toxinas que pudessem estar presentes em nossos corpos. Tivemos os acessos espirituais que cabiam a cada um e saímos da tenda diretamente para um banho frio no laguinho que ficava por ali.
Ainda foi servido um caldo de legumes e logo cada um foi para o seu canto repousar. Muitos de nós dormimos em um grande hotel que parecia pertencer a alguma Igreja.
Renovados pelo astral, alguns guerreiros se juntaram para receber as bençãos do verde nos barrancos que ficavam logo ao lado de onde iríamos dormir.
A noite nos reestabeleceu e o dia começou animado para os trabalhos coletivos que viriam. O mais encantador é que tudo o que se passou foi extremamente natural. Estávamos em casa com nosso querido Watu. Depois de servido um farto café da manha, nos colocamos em roda para trocar saberes. Compartilhamos cantos, poesias, informações e nos fortalecemos enquanto rede de curandeiros do Rio Doce. O Grande Ciclo foi convidado a trazer a presença e assim fizemos. Todos vibraram juntos. Pudemos conhecer muito dos cantos de várias regiões da bacia.
Fomos a linda cachoeira que havia no terreno. Celebramos a pureza das águas. Almoçamos, praticamos um pouco ali na grama mesmo e durante a tarde entramos em mais uma sessão de troca de saberes. Haviam várias oficinas disponíveis, cada um de nós participou de uma. Rolou ainda uma última roda de compartilhamento do que havia acontecido em cada uma das oficinas. Fizemos alguns encaminhamentos, nos despedimos e retornamos a Governador Valadares.
“Rio Doce falou. Falou como tem falado tantas vezes. Deixar escorrer a gota. Visita de espíritos, simplesmente ser. Conduzida por memória gênica, a estrutura ancestral de morte e vida, regeneração. Boa fé. O verso se torna mais lento para que possa sempre com carinho te expressar.
Valeu WATU, Grande Pai Rio Avô.
Tivemos uma noite muito agradável na casa de Fau e Clarinha, brincamos com o Jogo do Rio Doce. Acordamos muito bem.
OCUPA RECICLA RESISTE
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